domingo, maio 30, 2004

Coimbra,18:23h

Comboios que partem, comboios que chegam...
Nesta nova etapa da vida; que é itinerante, as estações, os comboios, o interior das carruagens, os reflexos nos vidros, os passageiros que dormitam,os magalas com as suas conversas pitorescas, as roupas, as côres e as mulheres são o calor da minha deambulação.
Neste contexto, viajo. Vivo mil e uma aventuras. Fantasio milhões de histórias e situações.
Pessoas que entram, pessoas que saiem...apeadeiros, estações... o sabor do tempo.
Voltas e mais voltas.A correria incessante do dia a dia.
No fim da linha lá estás tu, fêmea, de braços abertos para me curar das mazelas
do mundo.

quinta-feira, maio 27, 2004

Ah...D. Sebastião ou melhor...someday my king will come, sem vibratos

Hoje é um daqueles dias (muito igual a muitos outros) em que não consigo içar a vela, chupar o dedo erguê-lo no ar e decifrar se o vento bole a bombordo ou estibordo (Aproveito aqui para dizer que me esclareceram a maneira de saber de que lado é estibordo e bombordo: quando as naus iam para a Índia e desciam ao longo da costa africana o bombordo era do lado da terra (olhando da popa para a proa)).

(o Miles começou a soprar agora)

Acho que se alguém identificasse um compasso musical para a vida este seria o da valsa. Porquê? Sei lá porquê acho que sim, ser irracional também sabe bem. Vi-me obrigado a justificar pois se alguma fêmea ler o que escrevi, vai logo perguntar “porquê?”…Porquê pergunto eu, porque teremos de justificar sempre, não estamos a demonstrar nenhum teorema matemático! E até prova em contrário ninguém consegue descrever o decurso dos dias por equações matemáticas. Até porque não vos termos dado um beijo com os lábios semi-humedecidos (a 35.5ºC), posto a mão esquerda sobre o ombro direito quanto o sol nesse preciso momento dá uma piscadela e porque não dizemos há 68 segundos que vos amamos, nem sempre quererá dizer que estamos fartos de vocês... até porque se o depósito está cheio vocês são a melhor companhia.

1 2 3… 1 2 3 …1 2 3… 1 2 3… copular ao som de Strauss é algo de maravilhoso

(pus repete no someday my prince will come)

Já me interroguei se deus nosso senhor utiliza uma pierre cardin (aqui estive indeciso se havia de pôr parker, mas achei que com este comentário não haveria problemas de publicidade) para escrever o destino de cada um de nós, é que por acaso tenho aqui uma bic que bem negociada…

É verdade: “...the dream is over, what can I say?”

Garrincha apaixona-se por Elza Soares e divorcia-se da actual mulher.

Hello?
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me.
Is there anyone at home?
Come on, now,
I hear you're feeling down.
Well I can ease your pain
Get you on your feet again.
Relax.
I'll need some information first.
Just the basic facts.
Can you show me where it hurts?

There is no pain you are receding
A distant ship, smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move but I can't hear what you're saying.
When I was a child I had a fever
My hands felt just like two balloons.
Now I've got that feeling once again
I can't explain you would not understand
This is not how I am.
I have become comfortably numb.

O.K.
Just a little pinprick.
There'll be no more aaaaaaaaah!
But you may feel a little sick.
Can you stand up?
I do believe it's working, good.
That'll keep you going through the show
Come on it's time to go.

There is no pain you are receding
A distant ship, smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move but I can't hear what you're saying.
When I was a child
I caught a fleeting glimpse
Out of the corner of my eye.
I turned to look but it was gone
I cannot put my finger on it now
The child is grown,
The dream is gone.
I have become comfortably numb.

domingo, maio 23, 2004

Just a small consideration...
Por estar a estudar uma invenção a duas vozes do Johann Sebastian (a nº8), lembrei-me de mencionar uma pequena diferença entre atitudes nos meus professores de piano do ano passado. No Hot Clube tinha aulas às 14h30m à sexta-feira com o Filipe Melo, que supostamente saía às 13h30m da aula da manhã. Quando eu chegava ao pé da sala onde ele dava aulas, onde havia um piano de parede já sem o tampo de cima, por volta das 13h50m, ele ainda lá estava, a tocar alguma música do Oscar Peterson ou a tirar de ouvido voicings de 8 ou 9 notas. Quando eu entrava na sala, 40 minutos antes da hora da nossa aula, ele só dizia: "Hei, tudo bem? Queres ver esta cena que eu estava aqui tirar?". E explicava aquilo que estava a fazer. Nunca disse nada do género "Isso ainda é muito difícil para ti" ou "Isto é daquelas coisas que só se pode tocar ao fim de 10 anos". A maioria das vezes não almoçávamos para ficarmos a tocar, bem para lá da hora a que acabava a nossa aula (com o consequente desagrado da aluna que tinha aula a seguir).
No Conservatório de Coimbra (essa venerável instituição) tinha aulas (no enquadramento dos "Cursos Livres") às 16h às quartas-feiras. Quando chegava à sala, onde havia um piano de cauda completo, a professora com quem tinha aulas já lá estava sentada, a fazer palavras cruzadas. Piano de cauda, palavras cruzadas. Quando tocávamos peças em compasso ternário (3/4) a quatro mãos, ela dava o início da peça com "1...2...3...4". O que mais há a dizer?

sexta-feira, maio 21, 2004

Acabei de ver o filme do Corto Maltese e apetece-me divagar...

Desde criança que me atraem os cavaleiros solitários, aqueles que têm vários portos mas nenhuma amarra. Não sei o porquê. Sempre detestei westerns do Kirk Douglas e do John Wayne e sempre achei as índias muito mais bonitas que as mulheres dos fortes. Contudo devo dizer que sempre que dá um western com o Clint Eastwood não consigo deixar de ver...

Os lobos também têm algo...engraçado! não sei o quê, mas têm. Talvez serem selvagens, sei lá.

("Carinhoso" por Tom Jobim)

Tom é genial, as aproximações ao cool transformaram o jazz/samba numa coisa com sabor a manga?!

(sei lá podia ser banana mas manga parece mais exótico, podia ser papaia mas é um nome pouco sonoro: pa pai a? sei lá parece um nome em código)

Será que Chet nunca ouviu jazz/samba? sei lá?

Amor... o amor não pode ser partilhado.
Para se amar tem de se amar e ser-se amado sozinho. É por isso que nunca hei-de amar, porque o amor é atraiçoado logo quando se começa a amar. O amor implica compromisso, o amor implica deixar de amar para passarmos a gostar, o amor implica deixar de gostar da outra pessoa porque por muito que queiramos todos os machos são machos e todas as fêmeas são fêmeas. Mal se diz: Eu amo-te... logo deixamos de amar porque ficamos reféns do que dissemos ou fizemos (as hormonas tornam os indivíduos cavalos desenfreados), somos obrigados a reflectir sobre o que dissemos ou fizemos e concluimos que de facto não amamos. Quantas vezes depois da reposição do nível de hormonas não pensamos: O que é que estou aqui a fazer?

Será que o Tom Jobim soube que foi o melhor músico cool de sempre? Porque é que o João Gilberto foi viver para a américa do norte? E a Billie? terá sido melhor prostituta do que cantora? E o Chet, o que terá ele pensado antes de ter assinado o chão de Amesterdão? é o fim da linha meu caro...?

OK, ontem à noite tive a ver o filme do woody allen em que ele fica cego e tem um filme para realizar. E realiza-o.

"Um dia, quando eu estiver terrivelmente em baixo. Quando o ar estiver gelado, vou sentir um calor apenas por pensar em ti, e no como deves estar esta noite"

eu prefiro,

"Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar

Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor eu, vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar

Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
Espera
Me espera
Eu vou voltar"

Sei lá!

Garrincha é atropelado pelo defesa central do Santos..sai de maca (podia ter asas portáteis, era mais adequado à época, mas ok)....substituição!

quarta-feira, maio 19, 2004

Vila Verde - Lamarosa,19 horas


Apesar de nao ter estado no georges nesse dia dos belgas, recordo -me efectivamente (mal), de uma noitada que teve inicio no meu renault 5...
Pink Floyd, doors, jimi,Creedence clear water..., janis jolin, um "charuto" feito pelo meu amigo martins( que me queimou a forra do banco com moranguitos que saltavam a cada inalação sua ),
uma garrafa de wisky "zurrapa";à qual eu tirei o doseador para conseguir beber pelo gargálo...enfim, toda uma panóplia de condições para planear um "homicidio" ou começar uma religião.
...e na qual, efectivamente, alguém me guinou o volante no momento em que alegadamente eu estaria para embater num sinal de trânsito.
Uma coisa posso gartantir. Eu sempre respeitei os sentidos proibidos

"no dia seguinte ia descer o rio (ou ir para Lisboa? já não me recordo..)" Só queria dizer que este é o momento mais extraordinário de decadência que me foi permitido conhecer em toda a minha vida. Obrigado pela alegria que espalhas onde vais, velho amigo. Tu és realmente o arauto da diversão disconexa, da discussão inconsequente, da revolução imaginada. Que possas ser enquanto te apetecer e que nós estejamos sempre ao teu lado para te virar o volante antes de batermos nas placas de sentido obrigatório. Mesmo.

terça-feira, maio 18, 2004

Há uns tempos, estava eu no bar do nosso amigo George, quando entra de rompante um grupo de estudantes de Erasmus Belga. Ao princípio achei-os um pouco barulhentos, estava a desfrutar de um bom Wild Turkey (sem gelo). Com o andar da noite e após dois whiskies passei a beber cerveja a copo, passagem essa que coincidiu com o despertar de uma fome... o que é equivalente a pedir um cachorrão especial (bastante molho picante). Estava eu a trinchar a minha salsicha quando uma belga (de peitos fabulosos) se aproxima e pede-me para provar... ao que eu acedi com um sorriso.

Claro que este foi o início de uma longa conversa. Os vapores do alcool não me permitem lembrar com exactidão toda a cronologia dos acontecimentos. Soube que tinha acabado de entrar na Faculdade e tinha vindo visitar uns colegas aqui em Portugal, ao que perguntei se tinha vindo com o namorado (claro que o que perguntei foi se tinha vindo sozinha, numa viagem tão longa,...), acho que ela entendeu onde eu queria chegar. Passado algum tempo descobri que ela tinha gosto por fotografia, ao que perguntei se tinha máquina própria,... ao que respondeu que não, apenas gostava de servir de modelo - Pergunta inevitável: Nua? (eu imaginava aquele corpo nu enquadrado por lençois brancos, com a fragrância do sexo consumado no ar,...) Ela respondeu que não, o ex-namorado e mãe deste (Era fotógrafa profissional) tinham-lhe pedido mas ela não gostava de se despir assim (...).

Após vários finos uns oferecidos por mim outros pelos Belgas, um deles aproxima-se e faz-me a difícil pergunta: deve chamar-se uma fêmea por mulher, senhora, menina, rapariga,...? (ele falava português instantâneo, do género caldos Knorr); após uma dissertação mais ou menos longa, sobre como se devia chamar e o que elas gostavam que lhes chamassem, uma senhora (!) por detrás de mim (junto às torneiras dos finos) toca-me no ombro e diz que gostou muito da minha "elucidação" (palavras dela). Contudo não deixou de dizer que nós homens pensavamos que conheciamos as mulheres (com um aparte: "Eu não me estou a meter contigo, estamos apenas a conversar"). Era uma mulher cujos anos não a tinham poupado, era uma mulher feia, e ao que disse era enfermeira num centro de saúde perto de Miranda do Corvo. Face a tanta fealdade não tive coragem de desligar e tentar retomar a minha conversa com a rapariga belga (agora separada de mim por um magote de belgas).

No desenrolar da conversa apercebi-me que de facto esta mulher estava carente de atenção masculina. Esta mulher que vestia o vestido da fealdade acreditava de facto que era feia, e em vez de usar o truque de achar que era bonita convencia-se a ela que de facto era feia e consequentemente convencia-me a mim. Disse-me que na sua profissão atendia muitas prostitutas e que com elas tinha aprendido que o serviço demora exactamente 11 minutos, o título do livro de Paulo Coelho, que imediatamente me aconselhou (coincidências?). No seguimento, antes de se despedir e ir embora aconselhou-me "Mulher- uma geografia íntima" se queria conhecer realmente as mulheres.

A Maria, por detrás do Balcão piscava-me o olho após a saída desta personagem.

Mais ou menos ao mesmo tempo a belga vem ter comigo e diz-me que tem de ir para casa dormir que no dia seguinte ia descer o rio (ou ir para Lisboa? já não me recordo..) e combinou comigo no George passados dois dias à mesma hora. Mas disse-o de uma maneira tal que me apercebi que nesse dia nada ia "rolar".

Combinamos dois dias depois no George...mas eu tive de ir ter com a Patroa nesse dia

No dia seguinte lá tinha eu de ir trabalhar às 7:30...e já eram 4 da matina.

sábado, maio 15, 2004

Muitas vezes, em tardes como esta em que o sol arde um pouco mais do que eu quereria, como se ao contrário do uso de lenha fosse alimentado a transformador, ponho-me a pensar que algo de errado se passou comigo. O outro diria que a musica mudou, as drogas mudaram,... e acrescento eu que a verdadeira poesia morreu. Não falo da poesia de Pessoa, Rimbaud, Baudelaire, António Aleixo,... mas sim aquela saborosa fragrância que vagueia no ar. Hoje em dia saio à rua como se de uma formiga se tratasse, já não se pode simplesmente vadiar, liberto ao sabor do vento de bombordo ou estibordo. Quando se sai de casa, sai-se com um destino, o que é feito daquele sabor da incerteza? Aquele pequeno jeito samba que os Brasileiros tão bem exploraram? A incerteza que Schrodinger tão bem descreveu para os electrões tem de ser impossível para os humanos, e também temos de econtrariar os nossos incessantes movimentos Brownianos, porque o efeito de colisão é muito menos benéfico do que seria desejável...

Como já sabem ando a ler "Verdade Tropical", e se é certo que as palavras gravitam em torno do Tropicalismo gerado por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa (Gracinha) e Maria Bethânia muitos episódios passam-se com Chico Buarque ("Esses jovens de 23 anos fazem essas canções todas para quê? Arrumar namorada"), Torquato Neto, Edu Lobo, Elis Regina, Tom Jobim, ... e deixa uma vontade de inventar a máquina do tempo.

Gabriel Garcia Marquez disse um dia que Portugal culturalmente parecia-se muito como os países da américa latina, e eu só tenho pena que tenhamos de contrariar isso todos os dias. Bem só resta ir cantando a estória de Chico Buarque:

"
Quem me dera ficar meu amor, de uma vez
Mas escuta o que dizem as ondas do mar
Se eu me deixo amarrar por um mês
Na amada de um porto
Noutro porto outra amada é capaz
De outro amor amarrar, ah
Minha vida, querida, não é nenhum mar de rosas
Chora não, vou voltar..."


Garrincha dribla à esquerda, à direita.. um, dois, três ...pisa a bola ...remata...e é à trave!

quinta-feira, maio 13, 2004

Aveiro,22:19h

Uma noite no Georges conheci um americano. Chamava-se John.
Entre a taças de vinho da bairrada, a sua droga de eleição, e os meus copos de jack daniels fomos conversando.
Contou-me que tinha morado a um quarteirão da casa onde nascera a
Lady Day.
Gostava de Leadbelly e do tema "Good night Irene".
Mas a sua preferência ia para a "soul music", em particular para
o Otis Redding.
Com a voz embargada pelo vinho recordou a tristeza que sentira ao saber da notícia da sua morte.
- I was in a grey hound station, when a friend told me:
- John, Otis died in a plane crash!!!
- I couldn't belive - disse-me ele - I just stood in the station all night playing flippers...
Depois desta narrativa instalou-se o silêncio. Ele entregou-se aos seus demónios e eu aos meus.
- Georges!!! jack daniels. serve um para ti também, pago eu.

Aveiro, 16:15h

Não são rasgos musicais, mas...

A flock of seagulls... banda que deixou uma marca indelével na música dos anos oitenta... "and i run, i run so far away... couldn´t get away"...
O penteado que o vocalista usava na altura granjeou-lhe uma alusão por parte do Tarantino no pulp fiction:
- Hey you, a flock of seagulls, where´s the stuff!!!
Estes dois apontamentos e a mulher "boa" com quem ele casou resumem o meu interesse na banda.

Existe enorme celeuma à volta do "Bob"(Dylan).
A geração que viu nele a voz da contra-cultura dos anos sessenta,apesar dele afirmar numa das suas canções... it ain't me babe, it ain't me your looking for"...anda agora acusá-lo de ser um vendido.
O "Bob"deixou que utilizassem uma das suas músicas num anúncio comercial onde ele próprio aparece a interpretar o tema.
É UM ANÚNCIO À VICTÓRIA'S SECRET!!!SÃO MULHERES SEMI-NUAS!!!
Eh eh... way to go "Bob", és o maior!!!

quarta-feira, maio 12, 2004

Hoje de manhã acordei sobressaltado, suores frios e um pensamento incomodativo me acompanhou do mundo dos sonhos, rapidamente saltei da cama e abanei vérias vezes a cabeça como que à espera que a ideia me abandonasse, fui à casa de banho lavei várias vezes a cara...tive de dizer algo em voz alta...e mesmo assim nada, ela continua ainda agora na minha cabeça (espero que ela deseje ficar nestas linhas). Demasiado cedo para beber alcool ou deixar as ideias elevarem-se numa corrente de fumo de Sunset breeze...Coloquei a tocar o Concerto de Aranjuez pelo Miles Davies no Carnegie Hall ... a melodia acalma-me, mas não muito. A ideia ainda aqui está, e eu sei que ela só se vai embora quando eu não tiver atento, mas entretanto não consigo prestar atenção a mais nada e fazer-me esquecer dela... como se de uma lâmpada, a sua itensidade acompanha a corrente alterna do coração. Miles é sublime, só isso me acalma neste momento...as suas notas longas, sem vibrato, com a orquestra por detrás..sublime, sublime.

Parece que Alfredo Garcia Segur escreveu uma letra para a música de Joaquín Rodrigo,

Aranjuez,
Un lugar de ensueños y de amor
Donde un rumor de fuentes de cristal
En el jardín parece hablar
En voz baja a las rosas

Aranjuez,
Hoy las hojas secas sin color
Que barre el viento
Son recuerdos del romance que una vez
Juntos empezamos tu y yo
Y sin razón olvidamos


Quizá ese amor escondido esté
En un atardecer
En la brisa o en la flor
Esperando tu regreso


Aranjuez,
Hoy las hojas secas sin color
Que barre el viento
Son recuerdos del romance que una vez
Juntos empezamos tu y yo
Y sin razón olvidamos


En Aranjuez, amor
Tu y yo


Que merda ainda é cedo para beber.

terça-feira, maio 11, 2004

Tom: C

C
Eu vim um menino correndo
Em A7
eu vi o tempo brincando ao redor
Dm
do caminho daquele menino,
E7
eu pus os meus pés no riacho.
Am
E acho que nunca os tirei.
F G7
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
C Em
Eu vim a mulher preparando outra pessoa
A7 Dm
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
E7
A vida é amiga da arte
Am
É a parte que o sol me ensinou.
F G7
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
C E7
Por isso uma força me leva a cantar,
Am Gm C7 F
por isso essa força estranha no ar.
Fm C Am D7
Por isso é que eu canto, não posso parar.
G7
Por isso essa voz tamanha.

C Em
Eu vim muitos cabelos brancos na fronte do artista
A7 Dm
o tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
E7 Am
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
F G7
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
C Em
Eu vi muitos homens brigando. Ouvi seus gritos
A7 Dm
Estive nu fundo de cada vontade encoberta,
E7
é a coisa mais certa de todas as coisas.
Am
Não vale um caminho sob o sol.
F G7
É o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
C E7
Por isso uma força me leva a cantar,
Am Gm C7 F
por isso essa força estranha no ar.
Fm C Am D7
Por isso é que eu canto, não posso parar.
G7
Por isso essa voz tamanha.


Gal Costa a cantar.... o cachimbo a jorrar fumo... o copo atestado de whisky...ok até amanhã.

Aveiro,14:56h

Let it be... Naked...

Ao sair publicado num Boletim ciêntifíco o resultado de um ano de investigaçao levado a cabo pela U.A. sobre familias disfuncionais, não pude deixar ver a semelhança entre este e o final dos "Salteadores da arca perdida".
Fico a pensar nas familías que participaram nos inquéritos.
Respondiam como se aquelas cruzes no papel fossem mudar algo nas suas vidas.
O Boletim está feito e para que serve???
Nada,absolutamente nada.
Não é fantástico!!!
Bem, vai dar curriculum. Cada investigadora(o) levará para casa vários exemplares onde mostrará orgulhosamente aos familiares o seu nome no inicío do artigo em que colaborou .
Concluíndo, mais uma publicação da Drª tal... mais uma caixa no meio de tantas caixas, arrumadas num armazém em que todas as caixas são idênticas e cujo o único propósito é ganharem pó.

Bop cat bop... go johnny go... The Twelve bar Blues - diz o George
no solo do "for you blue"

segunda-feira, maio 10, 2004

No banco do "205". Isso, sim, um clássico. Com as cassetes do Bob Dylan, dos Pink Floyd e do Coltrane. Talk about "on the road" music.
Vêm-me à memória também um pneu na rotunda ao pé do Girassolum, várias cervejas num Sábado à tarde no meio de uma terreola qualquer onde nem sequer havia um café, só um mini-mercado com um balcão e, claro, o grande momento do meu amigo Vítor ao ver serem poisadas duas cervejas à nossa frente no Piano Negro: "George, eram já mais duas. Martins, temos de beber isto depressa que já aí vêm mais duas. Ah ah ah!". Disse aquilo mais dez vezes...

domingo, maio 09, 2004

Coimbra, 15:10h

- Eh pá... foda-se as mulheres... é uma coisa impressionante. Lamentava o meu amigo Martins após acesa discussão com a "namorada da altura".
Passei para o banco da frente, deixado vago por ela no "106".
- É impressionante como elas ao tentarem nos prender nos empurram para os braços de outras mulheres... continuou ele o desabafo.

Que bela cachimbada... Muddy Waters... the Blues...
Mulheres a dançarem no fumo que se desprende da minha boca.
A minha mente perde-se na voz lamacenta dos blues.
Há sempre uma mulher...ui, ui... slide guitar... play baby, just play...
Cá estou eu no meu alpendre...
Just my rockin' Chair, my pipe, my blood hound,my shotgun and me.
A Harmónica... blow baby, blow...
- Não leste o "on the road" na versão original- dizia-me o Martins... Blow baby, Blow

As mulheres...foda-se... as mulheres...

Ontem os meus velhos amigos resolveram convidar algumas pessoas para vir cá jantar a casa, para estarem todos juntos (hábito que mantêm à largos anos, várias vezes ao ano). Como tenho um gesso AZUL na perna não pude zarpar para outras bandas e ir jantar a outros lados (tipo Arco-Bar ?). A refeição fica um pouco de lado quando posso partilhar que bebi, camuflado com alguns copos de água, uma garrafa de vinho tinto divinal.

Durante o jantar fiquei com uma frase de um dos convidados: (Nasceu e foi criada na zona do Porto) "Tenho vergonha do sentimento de bairrismo que se desenvolveu no Porto". Aliando esta frase ao que um amigo meu viveu numa Casa do Porto, segundo o qual: "No final do discurso do Pinto da Costa só faltava pegarmos em tochas e irmos pegar fogo a Lisboa" tenho que concluir que de facto se instaurou um "ódio" não só desportivo como também social. Julgo que as bases de tal sentimento se baseiam em dois items Porto/Benfica e Qual é a Zona dos País mais trabalhadora. Que razões tão mesquinhas! Primeiro porque o futebol, embora dê projecção à região, não deixa de ser um jogo de sorte. Quanto à ideia instalada de que o Norte é mais trabalhador, tenho apenas a dizer que é aí que o "Nacional Porreirismo" tem grande pendor ofensivo (Major Valentim, Fátima Felgueiras, Carlos Calheiros,... ), e isto para não falar que embora a maior parte da industria esteja localizada acima do Mondego a maior parte das contribuições fiscais venham abaixo deste último (evasão...tipo metralhas).

E eu que perdi todas as virgindades que havia para perder como uma fêmea que nasceu, cresceu e vive no Porto.

Quanto à nossa discussão sobre música.
Julgo que basta uma(s) voz(es) - Bobby McFerrin "The Voice", Mineiros de Pias "Vozes do Sul"- para marcar o ritmo e a melodia da música. Ok, os Tédio Boys, Joane e os Amendoins Saltitantes não tinham muito a dizer... mas por exemplo Lou Reed, encalha sempre na velha história dos três acordes e mais alguns pseudo-arranjos musicais, mas a letra dá outra dimensão à música até porque por vezes as letras de certos músicos se enquadram em movimentos culturais, bem mais amplos que a música (Veja-se Caetano Veloso, Rita Lee, Torquato Neto, Nara Leão, Gilberto Gil... no movimento Tropicália que incluia peças de teatro, cinema,...). Com isto não quero disvirtuar, por vezes, o espetacular domínio das sincopas e das batidas multi-sonoras, contudo acho que mercemos mais... As músicas instrumentais nas quais se encaixam o Jazz, música Cubana (magnífico!), Africana, Chinesa,... têm alguma cultura por detrás, que sejam os escravos, as danças tribais, os Imperadores... o que existe por detrás do transe? novas drogas? os computadores (muitas vezes são eles que fazem todas as movimentações rítmicas)?

Bem estou a ouvir um "Nothing but the Blues" do Herb Ellis e assim vou ficar por enquanto...

sábado, maio 08, 2004

Aveiro, 0:29h

A Queima...
Coimbra chora... "Coimbra odeio-te, Coimbra estudantil bem entendido seja"...
É uma boa altura para ir ao cinema...ver "The Brown Bunnie" do Vicent Gallo...
...ir a um festival de Tuva... ficar em casa a ouvir o album "10000 anos entre Vénus e Marte" considerado um dos melhores albuns de prog rock de todos os tempos : " Mr. Cid ( José Cid )standing next to his assortment of keyboards, which includes a piano, two Mellotrons (the small white 400 model), Hohner clavinet, Mini Moog, and several keyboards I can't recognize. He also did the singing, and had a band backing him up, including bassist guitarist Zé Nabo, drummer Ramon Gallarza and Scottish-born guitarist Mike Sergeant (from the British band Marmalade).This whole album is a vintage keyboard lover's dream come true." ... disfrutar dos três Bill Evans no "Conversations with my self" bebericando uma chávena de Chá... Para os mais fisícos aconselho o "Debbie does Dallas" e uma sessão de onanismo.sim porque se procuram gratificação sexual( duração da Queima)com parceira(o)
dirijam -se ao parque da canção.


"People can dance to bad notes but they can't dance to bad rhythm"
Sem assumir demasiada postura de colunista...e sem pretender fazer apologias das escolhas de quem faz a banda sonora da Queima...acho que cada um tem aquilo que merece, ou mesmo aquilo que deseja.
Há um ano atrás achava que era a ausência de uma escolha multifacetada ou de uma exposição recorrente a música (or, for that matter, arte) de qualidade que fazia com que as pessoas aceitassem aquilo que é considerado música nos festivais e queimas de Portugal. Que seria o não ter noção de uma possibilidade melhor que lhes toldava a escolha.
Mas a minha interpretação mudou. Aqui na Holanda há um dos festivais de jazz mais importantes da Europa. Este ano já estão confirmados, entre outros, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Dave Holland, Pat Metheny. O Sonny Rollins tocou aqui em Amesterdão na semana passada. Para a semana vêm cá o Chick Corea e o Yo-Yo Ma, para não falar no John Scofield. A escolha alarga-se para Carla Bley, Sunny Murray, Sam Rivers, o Eugénio (Kissin), Zimmerman, etc. Todos os dias há jazz e música erudita em vários sítios da cidade, juntamente com salsa, blues, rock, reggae, entre outros. Em Amesterdão há dezenas de museus, com Van Gogh, Rembrandt, Monet, Rubens, Pollock, et al. Uma biblioteca com TUDO do Coltrane e do Miles Davis. Com um andar de literatura anglófona e outro só de pautas.
Resultado: o artista musical mais vendido na Holanda é um tipo chamado Franz Bauer. Para quem não conhece, basta fazer uma pesquisa na Net. Sem querer negar as capacidades de escrita de música catchy do senhor, posso dizer que será o equivalente aos "nossos" Toy e Marco Paulo. Num país com 16 milhões de pessoas, as vendas do último álbum vão em 3 milhões. Por isso só há uma conclusão a tirar. As pessoas vão sempre aceitar o denominador comum da idiotice. Seja onde for. E porque uma minoria de gostos não paga os apartamentos dos merceeiros da arte.
Deixo aqui o exemplo final, relativo à banda sonora do "Breakfast at Tiffany's" pelo Mancini, especificamente em relação ao "Moon River".

Mancini was heavily inspired by the film’s star Audrey Hepburn. "I kind of knew what to write, at least what track I should I be on, by reading the script," he said. "And Audrey’s big eyes gave me the push to get a little more sentimental than I usually do. Those eyes of hers could carry it I knew that. Moon River was written for her. No one else has ever understood it so completely. There have been more than a thousand versions of Moon River, but hers is unquestionably the greatest. When we previewed the film, the head of Paramount was there, and he said, ‘One thing’s for sure: That fucking song’s gotta go.’ Audrey shot right up out of her chair! Mel Ferrer [Audrey Hepburn’s husband] had to put his hand on her arm to restrain her. That’s the closest I had ever seen her come to losing control."

O que mais há a dizer?

Bastante. Uma secção rítmica é composta por baixo e bateria. Um piano, guitarra ou qualquer outro instrumento harmónico são dispensáveis na definição da harmonia e do ritmo de um tema. Uma música de dança ou de rave acaba por ser isso: baixo e bateria. E se o objectivo é ter pessoas a dançar, não é preciso mais nada. E ninguém disse que o objectivo era outro. Por isso, mais uma vez, cada um tem aquilo que pretende. E, muito sinceramente, há mais valor num tipo que faz música de dança de qualidade, que percebe de ritmos e de síncopas a acentuar a batida, que sabe colocar um phase shifter em sincronia com a música de maneira a fazer entrar o baixo quando o phase shifter acaba o ciclo e que usa samples como motivos ao longo da música (técnica usada por toda a gente, desde o jazz à ópera). Um tipo desses há-de ter sempre mais valor que um idiota que mal sabe tocar três acordes na guitarra de 200 contos, que acha que se diz "checksound" e que ele é que é o "líder da banda" que levou os 40 imbecis que eles conhecem ao pardieiro onde foram tocar.

Na música de dança ninguém pretende saber mais do que aquilo que faz. No jazz e na música erudita é fácil desmascarar quem tenta. Só na música de idiotas é que há lugar para poses e palhaçadas. Por isso o States não traz saudades nenhumas. Saudades só de sítios onde se pudesse escolher o que se quer ouvir e não ter sempre as mesmas pessoas (Tu metes nojo e Wray Gunn - concerto comemorativo dos 30 anos das duas bandas. Compra já o teu bilhete!) a fingir tocar as mesmas coisas. Mas esses sítios nunca houve nessa cidade.

yours truly aham

As grandes noitadas no States....saudosismo... as tripes, os moches, o alcool...
ok, "mundam-se os tempos mudam-se as vontades e o mundo é feito de mudança", mas noites inteiras com músicas (?!) sem uma única guitarra, sem uma única corneta, sem uma única ...VOZ (a não ser a do DJ Manél Ambrósio)! passar a noite toda a beber água, porque o gajo que vendeu as pastilhas meteu demasiado veneno para ratos...não ter o prazer de fumar uma ervinha... ir comer um cachorro ao psicológico em vez de um bitoque no arco-bar.... que é feito daquela célebre passagem: "Taxi...casal ventoso"...

Bem, hoje é sexta-feira, do meu prédio ouve-se a música nauseabunda do "Queimódromo" (ao pior estilo do Sambódromo) ....ok ...mais uma queima das fitas... ("queima a queima, queima a queima")

sexta-feira, maio 07, 2004

Aveiro, 22:27h


As pernas tremiam-me, sentia aquela sensação de nó no estomâgo, tipíca de quem sente ansiedade.
Já tinha batido à porta.
Não aparecia ninguém... estaria no sitío certo?
Recuei uns passos e olhei em volta... nada, não se via viv'alma.
Voltei a insistir... Truz, truz... veio à porta uma mulher.
-Boa tarde-disse ela com sotaque brasileiro enquanto acariciava os seios com ambas as mãos.
Tinha uma camisola de alças bastante decotada.
Toda ela era o cartão de visita da casa.
Fiz peito e tentei saber como se processava a transacção.
-São 50 € meia-hora.
-50 €... hum...parece-me bem...posso então entrar?
-De momento às meninas não tão cá. Foram ao cabelereiro.
- Porque você não vai dar um giro e volta às seis e meia.

Pontual à hora que marcara para mim mesmo, (sete horas) lá estava eu.
-Pode entrar, fique à vontade que as meninas estão se preparando.
sentei-me num sofá. Por trás de uma cortina desprendiam-se vozes feminínas.
O teatro estava prestes a começar, as actrizes ultimavam os preparativos.
- Vamo a mexer que o senhor tá esperando.
Uma a uma foram desfilando à minha frente, diziam o nome e cumprimentavam-me com dois beijos,
Todas prefiladas em frente ao meu sofá esperaram a minha escolha.
Subi ao piso de cima e entrei num quarto de dimensões reduzidas.
Ela apressou-se a colocar um lençol branco por cima da colcha desbotada que cobria a cama.
- Vai lavar?
Olhei para o bidé... -sim é melhor- retorqui.
Tinha urinado bastantes vezes enquanto fazia tempo.
No fim do coito, já lavado e a vestir-me, meti conversa, expliquei-lhe as razões "românticas" que me tinham levado até ela.
Quis saber que planos tinha para o futuro. Ela, sentada no bidé foi respondendo pacientemente.
Trocamos dois beijos na cara, os único permitidos pela profissão.
Indicou-me a porta de saída.
Cá fora detive-me a olhar o pôr-de-sol.



Aveiro, 7 de Maio de 2004


No tempo em que eu trabalhava no comércio, uma colega, após ter convencido uma senhora a comprar algo que já ganhava pó há décadas na loja, reclamou para si o título de "melhor vendedor do mundo".
Convém dizer que esta rapariga, conjuntamente com o esposo e filha formavam
uma familía disfuncional e que, a gabarolice era uma das suas muitas defesas contra a realidade quotidiana.
Como diria um colega do mesmo establecimento que discretamente lhe costumava passar a mão pelos seios...
"coitado de quem houve, fica aliviado quem o diz "
Mas esta auto-proclamada glória (vã) pôs-me a pensar quem na verdade merecia o "rótulo".
Instantaniamente... Judas Iscariotes!!!... esse sim, o maior vendedor de todos os tempos.
Quanto mais moía a ideia na cabeça... era trabalhador do comércio. A necessidade de alienar-me fazia com que eu desse por mim a ruminar o mais estúpido e inconsequente dos pensamentos.
... mais ela me parecia disparatada.
Judas não tinha feito mais que a sua obrigação.
Fôra o encenador da vida ( Deus ) que através de um rigoroso "casting" o havia escolhido para vender o filho.
Ora posto isto, Judas foi na verdade, o maior mártir de todos os tempos...logo a seguir a cristo.
É o seu nome, que ainda hoje é atribuído como sinónimo de falso...há mil novecentos e tal anos que lhe é atribúida a culpa de um homicídio que não cometeu. Limitou-se apenas a desempenhar o papel que Deus lhe atribuiu nesta "soap opera" e que por sinal foi curto.
O Mel Gibson parece estar de acordo comigo no que toca a este assunto.
Preferiu apontar baterias aos sacerdotes... algum arrufo que teve nessa hollywood dominada maioritariamente por Judeus.

quinta-feira, maio 06, 2004

Dorival Caymmi....perfume.

"Rosa Morena Onde vais morena Rosa
Com essa rosa no cabelo e esse andar de moça prosa morena,morena Ro- sa
Rosa morena o samba está esperando Esperando pra te ver
Deixa de lado esta coisa de dengosa Anda Rosa vem me ver
Deixa de lado esta pose Vem pro samba vem sambar
Que o pessoal tá cansado de esperar, O Rosa
Que o pessoal tá cansado de esperar, morena Rosa
Que o pessoal tá cansado de esperar, viu Rosa,
"

É incrível como me deixo levar, como um barco em dia de vagas, pelo ambiente de cada livro em que pego. Ofereceram-me um livro...o autor deixou-me de pé atrás.."Caetano Veloso"... agora já toda a gente escreve livro né?! Mas depois de a aventura por "Budapeste" ter-me deixado agraciado pelos autores de língua "brasileira", dei o benefício da dúvida.

(no fundo continua Caymmi a tocar...)
"Samba da minha terra deixa a gente mole
quando se canta todo mundo bole, quando se canta todo mundo bole
Quem não gosta de samba bom sujeito não é
É ruim da cabeça ou doente do pé
Eu nasci com o samba no samba me criei
e do danado do samba nunca me separei
"

O livro chama-se "Verdade Tropical" e pretende explicar o movimento denominado Tropicália. O prefácio é um pouco monótono....mas depois das primeiras páginas o samba, tal como perfume de mulher (francês!), inunda as células olfativas. o livro não deixa de ser autobiográfico, porque é a verdade segundo os olhos de quem escreveu, mas ora bolas, é realidade da Bahia! é a realidade de ouvir nos cafés João Gilberto a escrever páginas de música, é a realidade de onde um samba nasceu...nasceu na Bahia!

Inté! O Whisky, ou melhor o "Wild Turkey" chama por mim...

Durante as últimas semanas devorei a tetralogia "O Mar da Fertilidade", faltando-me as fascinantes últimas páginas que deixei no banco do tram numero 2, que menciono aqui porque sou muito transneocosmopolita.

Vou sentir saudades de Mishima... mas não tanto como dos A Flock of Seagulls. Ainda reverberam na minha mente as melodias arquitecto-barróquicas de construção trapezoidal da voz melifluosa do vocalista – “heb je even voor mij, heb je tiid voor me vrij”. Não tenho por hábito revisitar livros já lidos... e também não consigo imaginar-me a ler algo mais que um panfleto de supermercado, depois do seppulkru em que se tornou este pavilhão de ouro (escrevo torto porque o mundo está askew e isto ajuda-me a relaxar). Enquanto folheio o livro, não consigo varrer da cabeça a caspa que se acumulou ao longo dos anos, problemas de quem ainda tem cabelo aos 37. A ideia mórbida de: quando decidiu ele realizar tal cerimónia e que produtor foi idiota ao ponto de lha financiar? Convém mencionar agora aquele episódio do Ed Wood em que a igreja financia o Plan 9 from Outer Space, para mostrar quão erudito na sétima arte je suis. Capítulo após capítulo, a Caminho vai para a sua morte, assim como a personagem do livro “Uma Aventura a bordo do Kursk”. Quão André Malraux, quão. Pergunto-me. Como pode estar um livro tão ligado, assim, sem argolas, as páginas todas umas a seguir as outras, parece magia, olha, tão lindo! Ao futuro de uma pessoa, viva! E que seja por muitos mais anos. Afinal o sabre apenas funcionou em marcha-atrás, eu bem disse que aqueles manuais não vinham bem traduzidos do Japão, é o que dá fazer outsourcing. Depois do último, não vem mais ninguém. Mas depois DE O último livro ter sido entregue no editor, Sartre morreu (já faltava uma referência despropositada). Muitas dúvidas persistem na minha mente. Numa escala octatónica a oitava conta como nona? E o que é que isso implica em extensões? E como é que o Coltrane aprendeu a tocar dois tons ao mesmo tempo no saxofone com o Monk? Seria o Monk casado com uma cantadeira tradicional de Tuva? Que referências pseudo-intelectuais é que eu poderia pôr mais neste texto? Porque carga de água estou eu a perder tempo com isto? Foi ele gritar: "Longa vida ao Imperador...os samurais já foram!”... no entanto. Alguns continuam a regrar-se pelas suas leis...e outras a legalizar-se pelas suas regras, para dar um mau exemplo de utilização de humor de inversão (não Freudiano, claro).

Muitas vezes cavo. Com uma enchada-buracos é mais dificil mas o esforco físico faz-me bem às varizes. Na minha mente semeio aí todas estas ideias, nunca saiu nada que se fumasse convenientemente, mas a esperança persiste. Poincaré (O último universalista mas um péssimo pianista, ao contrário do Brad Meldhau-Mehlldau) disse que o fazia e eu cá não sou de intrigas. Em relação à invenção matemática, sou contra. Porque não o fazer também relativamente? É uma hipótese para as outras ideias....é um dos paradoxos mais engraçados: esconder a ideia por detrás to biombo (to biombo é inglês no infinitivo, suponho) da consciência para que depois se veja todo o valor desta imbecilidade que é escrever sem dizer nada só para despejar muitas referências. Mas há quem goste e se reveja e olha, antes assim que outrem.

Meditando nestes assuntos, vejo. Que o Aleph de Borges tem de existir, não vejo. Mas já dizia o Bartleby na short-story do Melville: “I am not particular”. Existe um ponto no Universo onde se pode observar todos os outros pontos. Chama-se “O Mirante” e ao Sábado à noite está sempre cheio de carros. Onde tudo faça sentido, cada vez tenho mais a certeza, é noutro sitio que não aqui. ... ou então devo começar a acreditar em Alá (o Deus dos romanos-apostólicos era demasiado estúpido para jogar xadrez, na altura em que era vivo, porque usei o Imperfeito em vez do Condicional, denotando portanto que aquilo a que me refiro é uma acção passada e não uma eventualidade não concretizada), pois concerteza deve estar distraído a fazer roque em qualquer tabuleiro....e o roque é a unica jogada no xadrez em que um jogador pode mexer duas peças, porque aqui somos todos muito cultos. Olaré.

P.S: As melhoras para o Rei da "mão de Deus" e para outros que tais
posted by Garrincha # Domingo, Maio 02, 2004
Coimbra (essa musa de todos nós que nela moramos), 2 de Maio de 2004


yours truly aham

Aveiro, 6 de Maio de 2004


Ao ver "el pibe d'oiro" ser internado novamente, veio-me à cabeça a comparação, ainda que tosca, com W.A.Mozart.
...Salieri sentiu-se traído por Deus, pois ofereceu-lhe aquilo que um rapaz tem de mais sagrado ( a sua castidade) no intuíto deste lhe conceder grandesa musical. Nela Salieri celebraria a glória divina.
Mas Deus, talvez por a "troca"ser frouxa, resolve manifestar a sua preferência musical numa das suas criações menos conseguida moralmente.
A genialidade,Ele oferta a Mozart,a Salieri ele dá a capacidade de compreender
o quão medíocre foi a oferta que fez e a capacidade de reconhecer o gênio musical de Amadeus.
A reflexão metafisíca que há muito eu necessitava de transcrever para o papel
começa aqui.
"Dieguito" e a "Hand of God".
No Mundial de 1986, no jogo entre a Inglaterra e a Argentina, dá-se um dos golos mais dicutido no futebol.
Num "lance" confuso, "el pibe" introduz a bola na baliza adversária com a mão. O golo é validado.
Os ingleses protestam de imediato.
Quando o capitão da equipa Inglesa o confronta com o sucedido,Maradona limita-se a sorrir e responde-lhe:
- it was the hand of God.
Tinha sido a mão de Deus.
Se os ingleses duvidaram, rapidamente se viram forçados a acreditar pois "o menino de oiro" da Argentina, recebe a bola no meio-campo, dribla meia equipa e marca aquilo que hoje é conhecido como: " um golo à Maradona.
Tal como Mozart, Maradona era um daqueles mortais, escolhidos pelo "Senhor"
para mostrar ao mundo a grandeza Divina.
Ora o Pai de toda a criação, quando resolve criar as suas obras primas, tende a utiizar um barro mais fino... mais requintado.
Não é pois,de admirar a facilidade com que este parte...
... (em progresso)...

quarta-feira, maio 05, 2004

Aveiro, 4 de Maio de 2004

O negrume exterior e o suave balanço da carruagem iam-me deixando cada vez mais dormente; pugnava para menter as pálpebras em cima...o seu peso era ja na ordem da tonelada... tonelada e meia...
Nesse exacto momento, enquanto bamboleava na ténue fronteira do sono e o estar desperto, dei por mim a recordar uma noite de copos...à alguns anos atrás, todas noites eram noites de copos.
Lembro-me de ir a passar no arco d'almedina , quando sou abordado por um homem (bêbado) a cantar
- excuse me, while i kiss the sky...
- Isso é jimi hendrix!!! Disse eu a abalrroar as palavras.
-Tens um cigarro?
-Não, fumo cachimbo... espera aí...
Neste momento, e enquanto eu me diriga a um traseunte, ele iniciava o " Bobby Brown" do zappa.
- Desculpa, por acaso não tens um cigarro que arranjes ali áquele "amigo"
- Tenho... meteu a mão ao bolso, tirou um maço de " Gigante" e estendeu-me um cigarro. Ao olhar para a parte interna do braço, entre muitas outras tatuagens... a cruz de ferro... não consegui evitar o pensamento... neo-nazi... ainda tentei fazer "filmes" mas o álcool não deixou"
Agradeci o cigarro e ofereci-o ao cantor... cantava novamente o purple haze.
Segui caminho Quebra-Costas acima. A meio, o homem, que desde que tinha retomado caminho, já me tinha tentado vender um rádio de bolso, começa a vociferar:
- Eu estive nos grandes assaltos às farmácias nos anos setenta...

O "take on me" dos A-HA imrropeu pela carruagem.
Atendi o telemóvel... era a minha "mulher".
- Demoras muito?
Olhei pela janela...
olhei para o relogio...
-23:10, deve ser na próxima...

domingo, maio 02, 2004

Durante as últimas semanas devorei a tetralogia "O Mar da Fertilidade", faltando-me as fascinantes últimas páginas.

Vou sentir saudades de Mishima... não tenho por hábito revisitar livros já lidos... e também não consigo imaginar-me a ler algo mais depois do seppuku. Enquanto folheio o livro, não consigo varrer da cabeça a ideia mórbida de quando decidiu ele realizar tal cerimónia. Capítulo após capítulo caminho para a sua morte, assim como a personagem do livro. Pergunto-me como pode estar um livro tão ligado ao futuro de uma pessoa, afinal o sabre apenas funcionou depois do último livro ter sido entregue no editor. Muitas dúvidas persistem na minha mente, porque carga de água foi ele gritar: "Longa vida ao Imperador"...os samurais já foram... no entanto alguns continuam a regrar-se pelas suas leis...

Muitas vezes cavo com uma enchada buracos na minha mente e semeio aí todas estas ideias, Poincaré (O último universalista mas um péssimo pianista) disse que o fazia em relação à invenção matemática, porque não o fazer também relativamente a outras ideias....é um dos paradoxos mais engraçados: esconder a ideia por detrás to biombo da consciência para que depois se veja todo o valor desta.

Meditando nestes assuntos, vejo que o Aleph de Borges tem de existir, existe um ponto no Universo onde se pode observar todos os outros pontos, onde tudo faça sentido, cada vez tenho mais a certeza ... ou então devo começar a acreditar em Alá (o Deus dos romanos-apostólicos era demasiado estúpido para jogar xadrez), pois concerteza deve estar distraído a fazer roque em qualquer tabuleiro....

P.S: As melhoras para o Rei da "mão de Deus"

Coimbra, 2 de Maio de 2004

Parei o carro à porta do museu militar. Dois carros com os vidros parcialmente embaciados assumiram uma posição de alerta. Os machos descontraídos tentavam acalmar as fêmeas que, com a nossa chegada se haviam tornado irrequietas.
Parece ter sido em vão, pois após termos baixado os vidros retiraram-se discretamente.

Lá estava ela, Coimbra by night.
A torre da Universidade, impotente.
Há muito que as suas ejaculações anuais se restringem ao insucesso. Nem um só espermatozóide expelido por ela transporta em si a fecundidade.

O meu amigo Faísca começou a preparar o seu nording para mais uma cahimbada.
Apressei-me a preparar o meu.
O sunset breeze ondulava no ar, a Janis contorcia-se no auto-rádio…
Ali ficámos largas horas a falar de literatura, mulheres, jazz …

A torre permanecia imóvel, incapaz de esconder a sua disfunção.
Antero, Camilo, Nobre, torga , reconheceram-lhe a incapacidade e distanciaram-se.
Todos outonos é ver a cidade a saudar o esperma negro que dela se desprende.
Mas rapidamente os “nadadores” fracos e sem a mobilidade necessária se quedam a meio do percurso.

Em tempos alguém citou Antero nas paredes das “Matemáticas”.
“ A universidade só iluminará o povo quando lhe pegarem fogo”

Aveiro, 28 de Abril de 2004


É daqui que vos escrevo.
A utilização do plural é necessária, na medida em que este mail, se destina ao emigrante, mas envio uma cópia ao repatriado.
Escrevo-vos de um computador comunitário instalado na pérola do campus de santiago. A biblioteca projectada pelo Siza.
Pérola , não por ter sido projectada pelo Siza, mas sim, porque nela tenho passado largas horas a procurar-me. Algumas a ler outras a vislumbrar a ria e as suas salinas... e claro... a tentar ler as mulheres que esvoaçam ocasionalmente perto do meu trono.

Na verdade nao sei bem o que escrever sinto-me dorido.
Fui com a cláudia fazer uma entrevista a uma familía carenciada.
O embate com a pobreza deixou-me atordoado.
Gostaria de descrever o que presenciei mas não tenho palavras.
Nada de sobrenatural diram vocês, mas fiquei revoltado.
Escrevo-vos numa necessidade imediata catarse.
Se o escrevesse só para mim teria a sensação de estar a escrever um diário daqueles que o kevin spacey mantinha no Seven... a iniquidade está por toda parte, tudo me mete nojo!!!
Por isso limito-me a divagar. A carregar nas teclas.

"the rich get rich,
the poor stay poor.
that's how it goes and everybody knows"

Tendo conhecimento deste axioma com antecedência porque me deixo ir abaixo ao ver uma mulher, cujo o único rendimento provém de trabalhos rurais que efectua para outros, que é maltratada pelo marido desempregado e tem quatro filhas na escola primária( uma delas com problemas na fala ).
Hoje andava a espalhar estrume.
Ficou contente com uma sacada de sapatos velhos e com um pacote de amêndoas que a cláudia lhe ofereceu.
Paga 40 contos de renda e vive num barraco.
Na pobreza não existe alegria como tanto se apregoa por ai, apenas sobrevivência...
Só Deus sabe... resposta dada quando inquirida como governa a casa apenas com o dinheiro que recebe dos seus trabalhos rurais.

ah que se foda ...

"the rich get rich,
the poor stay poor.
that's how it goes and everybody knows"

sábado, maio 01, 2004

José Afonso - Teresa Torga

No centro a da Avenida
No cruzamento da rua
Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua

A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela

Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
Não é biombo de sala

Dizem que se chama Teresa
Seu nome e Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga

Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que a diga António Capela

T'resa Torga T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha

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