Agostinho da Silva nasceu no Porto em 1906 e cresceu em Barca d'Alva. Na faculdade de Letras do Porto conclui a licenciatura em Filologia Clássica com 20 valores e o doutoramento com o «maior louvor». Uma bolsa de estudo leva-o até à Sorbonne e ao Collège de France.
Desempregado, Agostinho da Silva começa a dar aulas no ensino privado e explicações particulares. Mário Soares, mestre Lagoa Henriques, Manuel Vinhas, os irmãos Lima de Faria foram apenas alguns dos seus pupilos.
«Dava aulas de Filosofia, Cultura Portuguesa, Direito. Era uma homem perfeitamente pluridimensional». Para além disso, falava 15 línguas e dois dialectos africanos.
Foram os cadernos «O Cristianismo», editado em 1943, e «Doutrina Cristã», 1944, que abriram um fogo-cruzado entre Agostinho, Igreja e Estado Novo.
«Deus não exige de nós nenhum culto (...). Todos podemos ser sacerdotes, porque todos temos capacidades de Inteligência e de Amor (...) Estão ainda longe de Deus, de uma visão ampla de Deus os que fazem consistir o seu culto em palavras e ritos (...)», lê-se numa das passagens do texto.
Mesmo exonerado, Agostinho da Silva incomodava. Depois de muitos duelos travados na imprensa com personalidades como o padre Raul Machado, da Universidade de Lisboa, ou o cardeal patriarca de Lisboa, Agostinho acaba preso na cadeia do Aljube. A sua biblioteca é confiscada e inventariada.
Cansado de Portugal, Agostinho parte para o Brasil, onde deu continuidade à sua «missão» de divulgador cultural.
No outro lado do Atlântico, participou na fundação de universidades e centros de estudo, sobretudo fora dos centros urbanos: a Universidade Federal de Paraíba, a Federal de Santa Catarina, a Universidade de Brasília, o Centro de Estudos Africanos e Orientais da Universidade Federal da Baía.
Numa das cartas, Agostinho faz referência a Fernando Pessoa, afirmando que se tivesse ficado em Portugal «seria provavelmente um triste e cabisbaixo cidadão sentado à mesa de qualquer café (...) pendurado no seu cigarro».
A chegada da ditadura ao Brasil, traz Agostinho de regresso a Portugal, em 1969.
Por cá, passa pela direcção do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e foi consultor do Instituto Cultura e Língua Portuguesa (ICALP). Inicia também um grande contacto com a Galiza e com a Catalunha.
Nos últimos anos de sua vida, Agostinho da Silva tornou-se uma autêntica «estrela» nacional graças à sua participação no programa «Conversas Vadias» da RTP1.
Este avozinho com espírito de miúdo conquistou milhões de portugueses que se colavam ao écran para o ouvir. Um ano antes de morrer, com 87 anos e oito filhos adultos, admite, em entrevista ao jornalista da RTP Luís Machado, que «é muito raro» ler jornais. A não ser o «Público», salienta, «mas é sobretudo por causa do Calvin».